sábado, 31 de outubro de 2009

O Burguês

Andava nas ruas esburacadas com seu carro importado, sabia que a luta da sua vida foi conquistada, agora tinha uma excelente condição de vida e uma empresa de grandes lucros. Vangloriava-se de sua sabedoria, era um senil de meia idade, sim, era mais sábio que muitos septuagenários. Todos o respeitavam, de modo quase submisso, era como se fosse um “deus dos negócios”, que trabalhava muito, esperando sua sexta década de vida para ser o “deus do ócio”. O trabalho lhe rendia muito tempo, e quando chegavam os dias de descanso, só fazia isso, descansava, nunca desperdiçava dinheiro com festas e afins. As únicas festas que ia eram aquelas de familiares, onde amigos da mesma casta se encontravam e falavam sobre as novidades do mercado. Enfim, tinha uma vida digna e que todos queriam que seus filhos seguissem. Tudo isso era o que eles pensavam, mas a verdade é outra. Seu trabalho excessivo lhe rendeu uma justa cara de um senil, sim, um ser decrépito, mais repugnante que qualquer criatura de qualquer conto de Lovecraft. Além disso, seu trabalho estressante o deixou mais rabugento do que um septuagenário descontente, desiludido, era tão rabugento que chegava a culpar os filhos e dar broncas por pura higiene mental, alívio neuronal. Sua mulher já lhe plantara tantos chifres que se podia reconhecê-lo até no escuro, entre um alce e ele, até seus “amigos” de casta já usufruíram dos clítoris da “Miss”. Seu carro já fora riscado e vandalizado várias vezes, suas casa era semanalmente pichada, o problema nem se resolveu quando contratou um segurança, a casa foi mais valorizada e as tentativas de piche eram tantas, que os seguranças começaram a ignorar. Se sentia o rei da cocada preta, mas na verdade era o ser mais odiado, decrépito, rabugento e desprezível do mundo. Resumindo, era só mais um burguês.

Gabriel Felippi

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