quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A bela loira

O shopping estava demasiado vazio para uma tarde de sábado, talvez estivesse ocorrendo algum evento público que desconheço. Mas nas minhas andanças, vi num balcão de celulares, uma bela loira, de olhos verdes e bochechas rosadas. Fiquei sentado num canto, observando-a sem que ela percebesse. Parecia atrapalhada com o serviço, além de um nervosismo exasperado, como quem estivesse no primeiro dia de trabalho, ou, como quem quisesse sair o mais rápido possível para ir a tal lugar. Claro, o desconhecido evento, estava nervosa para sair do trabalho e ir ao evento, estava pensado na festa que estava perdendo com as amigas, ou com o namorado... Essa idéia me aborreceu, mas não perdi as esperanças, fui atrás do provável evento, lá seria mais apropriado para uma aproximação íntima. Descobri que no calçadão da cidade ocorria uma festa e fui para lá, ficava a algumas dezenas de metros do abandonado shopping. Fiquei perambulando entre “boyzinhos” até de madrugada, e nada da minha balconista apreensiva. No outro dia, ela não estava no balcão de celulares solitário, fiquei o dia todo naquele forno que era o shopping e nenhum sinal dela. Era plausível que ela trabalhasse de segunda à sábado, e como meu ofício não disponibilizava tempo nos dias de semana, iria vê-la no outro fim de semana. Chegado o tão esperado sábado, vi-a novamente no balcão, estava diferente, algo que não consegui identificar, mas era totalmente sublime, impossível de dizer o quê. Decidi falar com ela ali mesmo, no shopping, no meio do seu horário de serviço, iria com a desculpa de comprar um celular. Cheguei no balcão com calma e com aquele olhar convencional, indiferente. Pedi o melhor celular que tinha no balcão, para dar a impressão de “bom partido”, me mostrou um Nokia no qual o nome não decorei, mas parecia mais a placa de carro do que um nome. Falei que o celular era bonito, “mas não chegava aos pés da balconista que me atendia com graciosidade”, muito diferente com a inquieta da semana passada. Ela ficou corada, joguei mais algumas cantadas e me disse que estava em horário de serviço e não era apropriado no momento, então marcamos um encontro. O encontrado foi marcado na quarta-feira, as 19 horas no Mercury, o restaurante mais caro da cidade, tive que fazer 25 horas-extras para pagá-lo. Depois, de muitos beijos, chamegos e encontros, em restaurantes menos abastados, começamos o namoro. Foi difícil lhe dizer que não tinha dinheiro, mas ela não se importou, e se encantou quando disse que tive que fazer várias horas-extras para pagar o primeiro, e os outros, encontros. Nos casamos e tivemos um filho. Éramos realmente felizes, foi amor à primeira vista, como nas novelas. Certo dia, conversávamos sobre quando nos vimos pela primeira vez. Ela me disse que já me vira no shopping uma vez ou outra, e já tinha uma “queda” por mim, estranhei o fato de nunca percebê-la, mas não me importei. Então falei quando a vi pela primeira vez, no sábado anterior da primeira conversa, o que ela me disse me assustou, e muito:
Sábado anterior à nossa primeira conversa? pensou um pouco e arregalou o olhos Ah! Não era eu. Nunca lhe disse pois achei que não tinha importância, mas eu tinha um irmã gêmea, e naquele dia, eu estava gripada, e ela “quebrou um galho” pra mim por uns “trocados”. Minha irmã morreu de AVC uma semana depois da ajuda.

O monstro da insônia

A insônia o dominava. Foi para a cozinha beliscar algo, mas sua intenção era esfriar a cabeça. Ao fechar a geladeira, o motor começou a fazer um barulho muito estranho, aparentando mais à um gemido de dor, um gemido constante. Passado o susto, voltou ao quarto e lá sentou-se na cama. Tinha um bom livro de contos na mão, mas já havia esgotado-o antes de ir à cozinha. A insônia, um demônio que consumia-o de dentro para fora, que do nada, fez o ter uma crise de choro repentina. Chorava baixo, quase mudo, não queria acordar ninguém. Quando a crise cessava, ficava sentado na cama, pensando, com constantes sustos causados por estalos na madeira. Ali, sentado, abaixou a cabeça, fechou os olhos e dormiu, parecia até mesmo um sonho o fato de conseguir dormir.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dos "anarkistas" e dos "contra-anarkistas"

Dos "anarkistas"

Ó, admirável mundo velho

No qual clamo por seu retorno

Para que possamos viver em paz

Para que possamos, enfim, viver


Dos "contra-anarkistas"

Ó, admirável mundo velho

No qual foi e não mais voltarás

para não morrermos de fome

para não morrermos devorados

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"Um líquido quente começava a subir pela garganta"

Lá estava a Bastilha e eu marchando na primeira fileira. Todos disseram que estava louco quando disse que iria à frente. Eu apenas queria ser o primeiro a derrubar aquele lugar no qual prendiam meu pai e meu tio. A marcha continuava, meus compatriotas do meu lado tremiam. Um começou a emitir um choro, típico choro de quem segura-o para não demonstrar vergonha, aquele choro fraco, “segurado”. Aquele choro que a qualquer momento, vai sair em disparada, gritando, com as mãos nos olhos, com rios de lágrimas escorrendo e caindo ao chão. Por sorte, o choro não passou daquele “segurado”. A marcha continuara, a Bastilha era mais medonha pessoalmente, e os soldados perceberam-nos. Eles pegaram suas armas e miraram em nossa direção. O chorão da minha esquerda estava quase gritando, mas a marcha não cessou, e o primeiro tiro se ouviu. O chorão cai, a marcha pára, os olhos fitam aquele pobre homem, que deixara uma mulher e três filhos, a última coisa que vira foi meu olhar frio que o fitava com decepção. Virei para frente que continuei a marcha, os outros também, porém estava mais a frente, eles tremulavam tanto que mal conseguiam marchar em linha reta, e a saraivada de chumbos começou. Os chumbos zuniam meus ouvidos, gemidos e gritos podiam-se ouvir atrás de mim, mas não me importava. A segunda fileira já havia caído, e eu continuava firme, com o olhar profundo e os passos fortes, como quem quisesse deixar marcas pelo chão. Senti uma forte pressão seguida de um dor na barriga, coloquei a mão e vi sangue. Um líquido quente começava a subir pela garganta, a goela começou a coçar e tossi um liquido rubro, puro sangue. Caí de joelhos, a marcha novamente cessou, di mais duas tossidas, olhei para os miseráveis guarda e sorri, caí ao chão de uma só fez, como um saco de trigo, os mais corajosos se firmaram e continuaram a marcha. Meu trabalho já estava feito, o resto era com eles.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Viagem ao Paraíso

Abriu o envelope e se assustou com o que viu, tinha ganhado o concurso e iria para Cuba. Saiu pulando pela rua e falando para todos que tinha ganhado, depois parou novamente em frente à caixa de correio e ficou girando com os braços erguidos, rodopiando e gritando, “Ganhei! Ganhei!”. Todos acharam que ele tinha ficado louco de vez, uns compreendiam e parabenizavam-no pela conquista, outros viravam a cara e saiam blasfemando. Entrou dentro de casa aos gritos, com o envelope ainda em mãos, o gato Felix se assustou e pulou a janela, se refugiando no alto muro dos fundos. Correu para arrumar a mala, quarta-feira não iria esperar, tinha que estar pronto, apenas 2 dias para se despedir de todos parece pouco, mas ele só tinha 3 amigos, seria rápido, e provavelmente, com uma festa. Pegou um papel e uma caneta e começou a escrever uma carta a irmã, falando tudo o que sempre quis falar, o que estava trancado na goela e nunca teve coragem de soltar a tona, escrevia rapidamente, mas mesmo assim era bem legível, e escrevia com grandes letras e várias vezes sublinhado nas palavras mais “sinceras”. Terminada a carta, guardou-a no bolso do casaco de flanela e foi pegar o ônibus, iria para a empresa na qual ganhava dois míseros salários para pedir a demissão e mandar a carta pelo correio para a irmã. Na empresa, mandou o patrão pra puta que o pariu e a carta foi mandada normalmente, sem nenhum acontecimento em especial. Ligou para os amigos dizendo que faria a festa na noite seguinte. O dia foi normal, viu pela ultima vez a cara do William Boner e da Fátima, assistiu o último capítulo de qualquer novela idiota da Globo e viu o último filme “desconstrutivo” da Tela Quente. No outro dia a festa foi grande, Henrique, João e o gato Felix fizeram a festa “bombar”. Obviamente Felix ficou num canto recluso, era o mais excluído do quarteto. A festa ainda teve direito a um Strip-Tease de João para uma atriz do filme Calígula, além de vômitos em todas as paredes da sala, ninguém se importava, a casa, que era alugada, iria ser abandonada do jeito que estaria, suja e sem o pagamento do mês. Também vendera algumas coisas para pagar a viagem até “Curita”. No outro dia, a ressaca foi pesada, os amigos, inclusive Felix, não estavam mais na casa, ele lembrava o que aconteceu na noite anterior. Comeu alguma coisa, tomou um banho, pegou as coisas, inclusive o dinheiro, e foi para o terminal rodoviário. Além da mala, tinha dois itens imprescindíveis que sempre levava, livros e um MP3 para ouvir suas músicas. Não iria se importar com o espanhol, escolheu o em vez do inglês quando criança e fez 5 anos de curso, além de ter um vocabulário culto por causa dos livros de autores cubanos que costumava ler. A viagem de 3h foi monótona, tirando as pastagens, nada mais belo na paisagem, além de ler na maioria do trajeto. Em Curitiba, almoçou em algum restaurante pequeno, aqueles com bufês de 3 reais. Foi para o aeroporto pegar o avião para Cuba. No começo achou estranho, pois não sabia que existia aeroporto em Cuba, mas não se importou. Na hora de passar pela revista, ficou quase tudo. O MP3, as roupas de marcas, que não eram muitas, os tênis, além da própria mala, trouxeram o que sobrou numa sacola de lixo. Ficou assustado, mais sabia que o governo daria o resto necessário. A viagem foi calma e quando desceu no aeroporto, viu que a cidade era muito pequena, de no máximo 20 mil habitantes. Um homem o esperava no aeroporto e lhe deu todas as informações, uma delas era nunca falar de Cuba e Fidel, ou Ruan, ou qualquer coisa que remetesse ao governo, pois isso seria prejudicial no seu alojamento. Deram-lhe uma pequena casa, um quarto, um banheiro, uma sala, cozinha e área de serviço, tudo com móveis rústicos e coisas simples. O começo disse que queria ir para Havana, mas convenceram-no a ficar na cidade, que se chamava Porto de los Chanchos. Ficou feliz em morar lá, ninguém conhecia nada de Rousseau, Nietzsche ou mesmo de Marx, mas não se importou muito, afinal, era o lugar perfeito. Claro que tinha seus problemas, às vezes o gás acabava e demorava cerca de 1 semana para vir um novo, mas os vizinhos amigáveis sempre sediam um pouco de fogo, mas às vezes tinha que se virar com fogueiras, coisa que fazia sem dificuldade, pois já fora um escoteiro. As roupas também era um problema, mas não se importava, nunca se importou com vaidade. Mulheres, nenhuma o atraia, iria sempre nas sextas-feiras para o "puteiro" pegar a que estiver disponível, tinha dias que tinha que esperar para que uma ficasse livre, chegou num dia no qual havia 2 homens na sua frente esperando pela primeira que saísse do quarto com um homem com as pernas bambas. Trabalhava numa pequena empresa que fazia peças com tornos rústicos, de má qualidade, em vez de problema, isso era positivo aos trabalhadores, pois quando a máquina estragava, ficavam sem trabalho, mas mesmo assim ganhavam. O que ganhavam não era dinheiro, mas “tickets” lazer, para aproveitar em alguma área de lazer da cidade, como bares, jogos, e claro, o "puteiro". Alguns problemas de abastecimento de alimento também assolavam a cidade, mas as matas densas disponibilizavam grandes caças. O problema foi quando certa vez, voltando do trabalho e gastando alguns “tickets” no bar, ouviu alguém falar de Hugo Chávez, e entrou na conversa, pedindo o que havia ocorrido com Chávez, responderam-lhe que ele não estava mais se preocupando com a cidade, e ele pediu o que o Chávez tem a ver com Cuba, e o homem, depois de dar uma gargalhada respondeu:
— Você também caiu no golpe, Tonito?! Você está na Venezuela, nunca mais sairá daqui! — gargalhadas estridentes ecoaram pelo bar.

Gabriel Felippi

domingo, 1 de novembro de 2009

Relato Sobre a Invasão Extraterrestre

Mais um dia de trabalho, concertar circuitos é muito entediante, se soubesse disso, me profissionalizaria em qualquer outra coisa, menos nisso. Porém, não sei fazer outra coisa, apenas concertar circuitos, é o que traz alimento para minha morada. Porém, aquele dia, no qual fiquei quase todo a tarde concertando um único chip, foi especial, não pelo chip, mas por outra coisa. Saindo do trabalho e entrando no meu automóvel, percebi discos que voavam no ar, aquilo me encantou, era demasiado belo, os circuitos ficavam à vista e davam uma beleza singular, algo que nunca vi na vida. Meu encantamento acabou quando saíram raios laser dos discos e destruíram torres. Fiquei atônito, mas depois sai em disparada no meu automóvel, o discos continuavam o ataque e cada vez mais surgiam novos discos dentre as nuvens. Chegando em minha morada, peguei minha esposa e se abrigamos no esconderijo de baixo da morada. Lá, podíamos ver as notícias que saíam em rede global, ao mesmo tempo, mas o que vimos foi melancólico. O que acontecia na minha região aconteceu simultaneamente em outras, com os mesmo belos discos, disparando os mesmos lasers destruidores. Havia muito alimento no estoque de nosso esconderijo, e nem precisei explicar o que havia ocorrido para minha esposa, o problema foi quando a luz apagou, provavelmente a usina de energia havia sido destruída. Ficamos no escuro, achei a bateria e acendemos uma lâmpada para termos uma pequena luz e ver alguma coisa. Resolvi abrir a porta para ver o que ocorria lá fora, minha esposa bradou, mas disse que seria rápido, sai e vi a região totalmente destruída, amigos meus fugindo de vários vários seres semelhantes a nós, com membros, uma cabeça e bípedes andando em nossa direção. Esses seres tinham vestimentas e armas de mãos sofisticadas, de última geração, milênios a nossa frente. Entrei rapidamente no esconderijo e abracei minha esposa, ela ficou muito assustada, pois não sabia o que havia ocorrido, e nem pensaria em ir lá fora, pois tinha medo de descobrir o que vi e ficar pior do que eu. De repente, a porta se transformou em pó e dois seres extraterrestres vieram em nossa direção. Eles iriam disparar, mas perceberam nosso temor e pelo meu entendimento, resolveram brincar conosco. Largaram as armas e começaram a nos agredir, batendo com os membros. Me revoltei e ataquei um deles, tirei o capacete e o que vi foi um ser horrível, repugnante e aterrorizante. O ser tinha olhos pequenos um do lado do outro, uma abertura mais para baixo, perto do fim da cabeça, essa abertura na horizontal tinha um contorno vermelho. Tinha também duas conchas quase verticais em cada lado da cabeça, conchas com formas estranha, cheia de sulcos e elevações, além de fios curtos logo acima dos olhos, e fios compridos, que depois de mais pele amarela pálida sobre os fios curtos, iam até a parte de trás da cabeça, perto do pescoços, passando por trás das estranhas conchas. Também tinha uma estranha elevação com dois furos, que ficava entre os pequeninos olhos e a abertura horizontal. A criatura era horrível, fiquei estagnado ao vê-la, dando tempo para o amigo do ser pegar a arma e me desintegrar, mas antes, me disse algo na minha língua: “Nós, HUMANOS (creio que foi isso que nos disse, HUMANOS), não podemos deixar seres inferiores reinarem, morte aos Kreintoj!”. Prova que nos vigiavam a muito tempo, pois do contrário, não saberiam nossa língua. O ser mirou a arma em minha direção e disparou o raio, a última coisa que vi foi um clarão levemente azulado.

Gabriel Felippi

"Talvez...
realmente não haja mais vida em todo o universo
talvez, todos os seus habitantes tenham se auto-destruído
e nós só estejamos demorando um pouco mais que eles..."

por Adrin

http://chuvazul.blogspot.com/2009/01/talvez.html