sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"Um líquido quente começava a subir pela garganta"

Lá estava a Bastilha e eu marchando na primeira fileira. Todos disseram que estava louco quando disse que iria à frente. Eu apenas queria ser o primeiro a derrubar aquele lugar no qual prendiam meu pai e meu tio. A marcha continuava, meus compatriotas do meu lado tremiam. Um começou a emitir um choro, típico choro de quem segura-o para não demonstrar vergonha, aquele choro fraco, “segurado”. Aquele choro que a qualquer momento, vai sair em disparada, gritando, com as mãos nos olhos, com rios de lágrimas escorrendo e caindo ao chão. Por sorte, o choro não passou daquele “segurado”. A marcha continuara, a Bastilha era mais medonha pessoalmente, e os soldados perceberam-nos. Eles pegaram suas armas e miraram em nossa direção. O chorão da minha esquerda estava quase gritando, mas a marcha não cessou, e o primeiro tiro se ouviu. O chorão cai, a marcha pára, os olhos fitam aquele pobre homem, que deixara uma mulher e três filhos, a última coisa que vira foi meu olhar frio que o fitava com decepção. Virei para frente que continuei a marcha, os outros também, porém estava mais a frente, eles tremulavam tanto que mal conseguiam marchar em linha reta, e a saraivada de chumbos começou. Os chumbos zuniam meus ouvidos, gemidos e gritos podiam-se ouvir atrás de mim, mas não me importava. A segunda fileira já havia caído, e eu continuava firme, com o olhar profundo e os passos fortes, como quem quisesse deixar marcas pelo chão. Senti uma forte pressão seguida de um dor na barriga, coloquei a mão e vi sangue. Um líquido quente começava a subir pela garganta, a goela começou a coçar e tossi um liquido rubro, puro sangue. Caí de joelhos, a marcha novamente cessou, di mais duas tossidas, olhei para os miseráveis guarda e sorri, caí ao chão de uma só fez, como um saco de trigo, os mais corajosos se firmaram e continuaram a marcha. Meu trabalho já estava feito, o resto era com eles.

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