quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Diálogos no ônibus
- Judeu, filho da puta! Judeu de merda, vou te matar! - bradava um velhaco para o celular no ônibus. Uma senhora, que sentava-se na frente dele, virou-se e falou:
- Senhor, o que é um jeudeu?
- Judeu? Judeu é um cara que olha pra ti, dá um sorriso e mete a mão no teu bolso! Isso é um judeu! - respondeu o velhaco, afastando o celular do ouvido.
- Senhor, venho de uma familia judia, sou judia e ninguem é assim, o senhor está equivocado. - disse outra mulher, com finas roupas, que estava na fileira ao lado, não pergunte-me o que fazia no ônibus, mas tinha roupas elegantes.
- Ah, mas ele é um, ele é um desses sim! - defendeu-se o velhaco.
Cutuquei-o e ele me fitou com olhos assustados:
- Senhor, você é católico? - perguntei.
- Sim, sou catolico apostólico romano devoto e vou à igreja todo domingo. - respondeu com firmeza.
- É, então, Jesus era judeu.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
A bela loira
O shopping estava demasiado vazio para uma tarde de sábado, talvez estivesse ocorrendo algum evento público que desconheço. Mas nas minhas andanças, vi num balcão de celulares, uma bela loira, de olhos verdes e bochechas rosadas. Fiquei sentado num canto, observando-a sem que ela percebesse. Parecia atrapalhada com o serviço, além de um nervosismo exasperado, como quem estivesse no primeiro dia de trabalho, ou, como quem quisesse sair o mais rápido possível para ir a tal lugar. Claro, o desconhecido evento, estava nervosa para sair do trabalho e ir ao evento, estava pensado na festa que estava perdendo com as amigas, ou com o namorado... Essa idéia me aborreceu, mas não perdi as esperanças, fui atrás do provável evento, lá seria mais apropriado para uma aproximação íntima. Descobri que no calçadão da cidade ocorria uma festa e fui para lá, ficava a algumas dezenas de metros do abandonado shopping. Fiquei perambulando entre “boyzinhos” até de madrugada, e nada da minha balconista apreensiva. No outro dia, ela não estava no balcão de celulares solitário, fiquei o dia todo naquele forno que era o shopping e nenhum sinal dela. Era plausível que ela trabalhasse de segunda à sábado, e como meu ofício não disponibilizava tempo nos dias de semana, iria vê-la no outro fim de semana. Chegado o tão esperado sábado, vi-a novamente no balcão, estava diferente, algo que não consegui identificar, mas era totalmente sublime, impossível de dizer o quê. Decidi falar com ela ali mesmo, no shopping, no meio do seu horário de serviço, iria com a desculpa de comprar um celular. Cheguei no balcão com calma e com aquele olhar convencional, indiferente. Pedi o melhor celular que tinha no balcão, para dar a impressão de “bom partido”, me mostrou um Nokia no qual o nome não decorei, mas parecia mais a placa de carro do que um nome. Falei que o celular era bonito, “mas não chegava aos pés da balconista que me atendia com graciosidade”, muito diferente com a inquieta da semana passada. Ela ficou corada, joguei mais algumas cantadas e me disse que estava em horário de serviço e não era apropriado no momento, então marcamos um encontro. O encontrado foi marcado na quarta-feira, as 19 horas no Mercury, o restaurante mais caro da cidade, tive que fazer 25 horas-extras para pagá-lo. Depois, de muitos beijos, chamegos e encontros, em restaurantes menos abastados, começamos o namoro. Foi difícil lhe dizer que não tinha dinheiro, mas ela não se importou, e se encantou quando disse que tive que fazer várias horas-extras para pagar o primeiro, e os outros, encontros. Nos casamos e tivemos um filho. Éramos realmente felizes, foi amor à primeira vista, como nas novelas. Certo dia, conversávamos sobre quando nos vimos pela primeira vez. Ela me disse que já me vira no shopping uma vez ou outra, e já tinha uma “queda” por mim, estranhei o fato de nunca percebê-la, mas não me importei. Então falei quando a vi pela primeira vez, no sábado anterior da primeira conversa, o que ela me disse me assustou, e muito:
— Sábado anterior à nossa primeira conversa? — pensou um pouco e arregalou o olhos — Ah! Não era eu. Nunca lhe disse pois achei que não tinha importância, mas eu tinha um irmã gêmea, e naquele dia, eu estava gripada, e ela “quebrou um galho” pra mim por uns “trocados”. Minha irmã morreu de AVC uma semana depois da ajuda.
O monstro da insônia
A insônia o dominava. Foi para a cozinha beliscar algo, mas sua intenção era esfriar a cabeça. Ao fechar a geladeira, o motor começou a fazer um barulho muito estranho, aparentando mais à um gemido de dor, um gemido constante. Passado o susto, voltou ao quarto e lá sentou-se na cama. Tinha um bom livro de contos na mão, mas já havia esgotado-o antes de ir à cozinha. A insônia, um demônio que consumia-o de dentro para fora, que do nada, fez o ter uma crise de choro repentina. Chorava baixo, quase mudo, não queria acordar ninguém. Quando a crise cessava, ficava sentado na cama, pensando, com constantes sustos causados por estalos na madeira. Ali, sentado, abaixou a cabeça, fechou os olhos e dormiu, parecia até mesmo um sonho o fato de conseguir dormir.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Dos "anarkistas" e dos "contra-anarkistas"
Dos "anarkistas"
Ó, admirável mundo velho
No qual clamo por seu retorno
Para que possamos viver em paz
Para que possamos, enfim, viver
Dos "contra-anarkistas"
Ó, admirável mundo velho
No qual foi e não mais voltarás
para não morrermos de fome
para não morrermos devorados
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
"Um líquido quente começava a subir pela garganta"
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Viagem ao Paraíso
— Você também caiu no golpe, Tonito?! Você está na Venezuela, nunca mais sairá daqui! — gargalhadas estridentes ecoaram pelo bar.
Gabriel Felippi
domingo, 1 de novembro de 2009
Relato Sobre a Invasão Extraterrestre
Gabriel Felippi
"Talvez...
realmente não haja mais vida em todo o universo
talvez, todos os seus habitantes tenham se auto-destruído
e nós só estejamos demorando um pouco mais que eles..."
por Adrin
http://chuvazul.blogspot.com/2009/01/talvez.html
sábado, 31 de outubro de 2009
O Burguês
Gabriel Felippi
A "nóia" do muro
— Como pode uma bela família acabar desse jeito?
— É, a campanha de Carlos começara num terreno baldio e terminara entre escombros demarcados com tijolos empilhados. — respondeu o velho depois de tragar o seu cachimbo.
Gabriel Felippi
A Eternidade Bicentenária
— Hoje, faz duzentos anos que o Demônio da Morte foi jogado no abismo pelo Deus Dragão Alado e ficamos condenados a imortalidade. Digo “condenados”, pois nossa vida se tornou monótona e totalmente tediosa, perdemos o motivo de viver, não temos guerras pois nossos inimigos sabem que não morrermos, e se invadirmos, não haverá graça, já que eles apenas fugirão e não irão defender seus lares. Não temos nada para fazer, creio que minha missão foi completada quando ajudei Deus Dragão Alado à matar o Demônio da Morte. Se Tupã não quer me matar, eu mesmo faço isso! — o Apache pegou uma faca que estava na sua cintura e passou no próprio pescoço, algo que não ocorria à dois séculos aconteceu, o Apache caiu no chão morto, com o pescoço jorrando sangue e avermelhando a terra. Todos ficaram estupefatos, não houve nem sequer um suspiro, logo depois, os mais velhos fizeram a mesma coisa com a mesma faca. Um por um da aldeia repetiu o ato, sem pressa e com toda a calma da eternidade. Dumbá estava horrorizado e viu um por um cair na sua frente, uma pilha de corpo deixando toda a terra rubra, os suicídas agiam com naturalidade e frieza, como se os corpos deles estivessem possuídos por alguma entidade desconhecida. Foi a vez de Wará que agia do mesmo modo, Dumbá correu na direção dele em prantos, mas foi em vão, ele passou a faca no próprio pescoço e caiu. Então Dumbá correu para o canto, perto de uma oca, onde a terra ainda não ainda não estava rubro por causa do sangue. Ficou de joelhos, apoiando o ombro na parede e chorando. No ato suicida dos outros, ninguém gritava ou fazia som algum, ouvia-se apenas os passos lerdo e arrastados, como de zumbis, e o barulho que fazia-se quando alguém caia. Dumbá olhou para o chão que se ajoelhara e ao seu redor, tudo estava escarlate, olhou para trás e viu sua mãe, a última que ainda não caíra na pilha de corpos, abaixando-se para pegar a faca, ela observou por poucos segundo a faca ensanguentada, fitou o filho e passou a lâmina no próprio pescoço. Dumbá correu em direção ao corpo da mão que, no chão, ainda jorrava sangue, caiu de joelhos chorando como nunca chorou. Depois de alguns minutos, Dumbá ainda estava de joelhos ao lado do corpo da mãe, mas balançava o próprio corpo para frente e para trás, emitindo um grunhido constante e assustador. Sua boca aberta deixava cair saliva, e seus pescoço estava cortado, mas sangue não saia, os braços repousavam sobre as coxas nuas, com a faca na mão direita, ele estava inundado em insanidade. Porém, naquele lodo de demência que Dumbá caíra, uma frase se repetia de forma rítmica na mente dele, a frase dizia:
“... morrer é uma dádiva da vida... morrer é uma dádiva da vida...”
Gabriel Felippi